por Frei Rui, promotor internacional da Ordem dos Pregadores para o Laicado
Queridos Amigos,
Uma palavra para vos dizer que estou próximo de vós nessa peregrinação a Nossa Senhora de Aparecida. Uma peregrinação é um momento espiritual muito forte, coloca-nos na senda de grandes peregrinos da História da Salvação: Abraão, Moisés, Elias, Maria e Jesus.
Ao pensar na vossa peregrinação que tem como destino o Santuário da Aparecida lembrei-me das caminhadas que Maria fez e que, talvez, possam motivar a vossa caminhada. Deixem-me recordar algumas.
A primeira caminhada que o Evangelho nos relata foi aquela que Maria fez, logo após a Anunciação, a casa de Isabel. Diz que foi apressadamente. Numa marcha há sempre momentos e ritmos diferentes. O que fez com que Maria andasse apressadamente não foi a curiosidade ou dúvida mas a força da caridade que a levava a procurar ajudar alguém que necessitava de apoio, por isso o seu o foi ligeiro. Quando alguém precisa, o nosso o não pode ser lento, há urgência, temos que ir depressa, às vezes, porém ralentamos o o e não damos resposta pronta ao irmão que nos necessita. Nessa caminhada podeis pensar como fazeis caminho e se caminhais depressa ao encontro de quem vos necessita.
Uma outra caminhada de Maria que me impressiona muito foi aquela que Maria fez com o Menino Jesus e São José a caminho do Egito. Estava em risco a vida do Menino e havia que fugir. Nos séculos ados houve pintores que pintaram quadros lindíssimos sobre esta viagem adoçando os seus contornos. Mas deve ter sido uma viagem difícil, quando a recordo vem-me à ideia aquelas famílias mexicanas que no meio de tantos perigos tentam entrar nos EUA na esperança de uma vida melhor, e penso nos perseguidos por tantos motivos ideológicos, religiosos, raciais… Nestes dias penso nos cristãos de Iraque em pleno sobressalto. Na vossa caminhada pensai naqueles que são obrigados a fazer caminho para fugir a tantos perigos. Fugindo, também, no meio de outros tantos. Maria, José e o Menino identificam-se com estas caminhadas tantas vezes marcadas pelo medo e pelo desespero.
Gosto de pensar numa outra caminhada que Maria com José e Jesus fazem a Jerusalém. Penso como essa seria marcada pela oração. Certamente teriam rezado, com os outros peregrinos, os salmos graduais. Certamente teriam sentido a alegria de chegar ao Templo de Jerusalém e aí cantar o louvor de Deus. Mas esta caminhada foi também um momento de discernimento sobre a missão daquele que ali se apresenta como aquele que se deve ocupar das coisas de seu Pai. A vossa caminhada também poderia ter esta dimensão de encontro convosco mesmos, numa peregrinação interior que deve acompanhar a exterior, essa caminhada que é discernimento interior de vós mesmos, do sentido da vossa vida e opções, do lugar de Deus no vosso coração e, porque não, do que Deus quer de vós.
Ao encontrarmos Maria junto à Cruz do Senhor, podemos pensar nesta outra caminhada de Nossa Senhora. Tem momentos dramáticos: a Mãe que vê o Filho morrer na cruz, e o recebe quando o descem do lenho. A tradição cristã coloca-nos ainda, na Via-Sacra. Diante do quadro de Maria que encontra o seu Filho no caminho do Calvário, desfigurado, rejeitado, escarnecido pela multidão, como anunciara Isaias nos Cânticos do Servo. Hoje somos convidados a ir ao encontro de Jesus desfigurado no sofrimento humano. Recordo tantos voluntários que vão encontro de doentes terminais e os apoiam a eles e às sua famílias, recordo visitadores de prisões que ajudam homens e mulheres a reencontrar a dignidade perdida, recordo gente que em locais onde o estrume e as pessoas parecem confundir-se ali oferecem algo de humanidade. Tantas peregrinações ao encontro de Jesus desfigurado no sofrimento. Que a vossa caminhada avive em cada um o compromisso com os mais pobres, com os que sofrem, com aqueles a quem roubaram a dignidade.
Renovo uma saudação amiga a todos e a certeza que em Roma alguém vos encontra a caminhar aos desfiar as contas do seu rosário.