por Frei Bruno Palma, op.
Nasceu para nós um menino,
Um filho nos foi dado.
(Isaías 9,5)
O barulho vai atrapalhar: ele vem silencioso e desarmado. O ruído da nossa alegria pode intimidá-lo; as facas das nossas palavras, assustá-lo.
Ele vem como brisa suave que mal levanta as folhas da nossa soleira; como quem pede licença, em voz baixa; quem procura refúgio.
Como a luz da manhã, vai infiltrando-se pelas frestas de nossas portas, das nossas barricadas, abrindo caminho pelos corredores, descendo aos porões escuros.
É preciso deixar o Menino entrar. Sua aparência tão comum nos assusta, sua presença certamente vai nos incomodar. Mas deixem o Menino entrar.
Ele vem tomar parte da nossa festa. E bem que merece essa festa porque hoje é o dia de seu aniversário. Mas quantas pessoas se lembram disso? E com esse barulho de copos e talheres, nesse tumulto de vozes e risadas, quem vai ouvi-lo?
Deixem o Menino entrar.
Hoje é um dia muito especial, porque é a primeira visita do Menino. Aproveitem enquanto é pequeno, para toma-lo nos braços e apertá-lo contra o coração. Hoje é ainda bem pequeno; e, para dormir, basta-lhe um punhado de palha e uma manjedoura.
Deixem o Menino entrar, em sua casa e em sua vida. Não fechem as portas, nem lhes ponham cadeados: ele sabe como abri-los, mas não vai forçar a entrada.
Sim, deixem-no entrar: é tão pequeno!…
Quando crescer e tornar-se home, é ele quem vai carregá-los. Então, vai lhes parecer que será incapaz de fazê-lo; mas vocês se enganam: ele vai carregar um peso muito maior, quando subir a Montanha com a Cruz as costas, pois, com ela, carregará a todos nós e mais o peso do mundo e da história dos nossos desatinos, escrita com fuligem e sangue.
Mas, hoje, o Menino é leve. Deixem-no entrar.