Juventude Rural, Trabalho Escravo e Igreja Cristã

por Brígida Rocha dos Santos*

A Semana da Oração pela Unidade Cristã é o despertar para amar ao próximo, respeitando idades, religiões, espiritualidades, ancestralidades e suas expressões. Permitamo-nos então, ar pelo processo de sensibilização e mobilização de cristãos contra o trabalho escravo, considerando que de 1995 a 2017, foram mais de 50 mil trabalhadores e trabalhadoras resgatadas, entre estes 17.590 foram pessoas com faixa etária entre 13 anos a 29 anos de idade. Trabalho Escravo, que viola não somente direitos trabalhistas, onde os escravagistas são em maioria de grandes empresas, projetos e convênios de Estado descompromissados com o povo, são grileiros e fazendeiros. É o agronegócio, mineração, construção civil e grandes empreendimentos que desterritorializam pessoas, como o MATOPIBA que mata tudo para o crescimento da soja e ainda utilizam juventude rural para devastar recursos naturais e a escraviza nas obras, atormentam familiares e as comunidades com impactos socioambientais, despejos, expulsões, grilagens, destruições de rios, florestas, roças, plantios, casas e ainda acabam com estradas vicinais, dificultando percursos para as escolas e ao escoamento de produções das famílias.
Reflete-se que diante de raras politicas sociais e politicas públicas, aumentam os riscos de existir ainda mais juventudes escravizadas. São opressões políticas, cooptações de lideranças e corrupção eleitoral, tudo atinge a juventude rural e correlaciona-se ao trabalho escravo. Juventude que sofre as consequências do trabalho escravo desde a gestação e infância, com ausência e sofrimento dos pais. Em cada geração, o crime com diferentes roupagens e cenários.
Por que não há incentivos de educação popular e escolarização de qualidade para a juventude rural?
Possivelmente temem a rebeldia dos jovens contra aqueles que os oprimem. Sim são jovens quilombolas, são povos indígenas, são assentados/as, acampados/as e outros que se identificam jovem do campo, mesmo que pelas circunstancias da vida estejam mais tempo na cidade. São muitos que ainda sofrem com o trabalho escravo, ameaçados/as de morte, violências físicas, psicológicas, sexuais e identidades abaladas.
Juventude do campo mais uma vez vitima das violências e crimes, sobrevivendo com a esperança, fé e união em Deus, com distintas rebeldias e resistências às opressões, a cada geração, superando desafios, independente de idade, raça, cor, gênero, religião, cultura e nacionalidade.
Vamos superar a imigração forçada, o aliciamento, o tráfico, e ás vulnerabilidades das famílias para combater o trabalho escravo?
A juventude rural e igreja cristã, manifesta a luta contra o crime de trabalho escravo, reconhecendo que há jovem emigrante buscando refúgio e imigrante em busca de proteção. Una-se aos trabalhadores/as brasileiros/as e estrangeiros/as que ainda jovens am pelas diversas formas de aliciamento e tráfico para a escravidão, sim Escute, Observe, Acolha e Denuncie.
Oramos para que ocorra mais fiscalização independente de denuncias, que a bancada ruralista pare de reforça suas cercas, desconfigurar legislações e inviabilizar as ações institucionais do Trabalho. Pois a redução de denúncias e de trabalhadores resgatados não significa redução do crime. Juntos em oração por território livre e casa comum a todos para desenvolverem potencialidades, expressões socioculturais, e a união pela fé cristã. Oramos também pela juventude rural para que viva no território, perseverantes na esperança. Fortalecidos pela experiência de Santa Bakhita, padroeira das pessoas sequestradas e escravizadas para encorajar compromissos pela libertação mesmo diante das conjunturas de opressão.
Vamos enxergar e agir com a realidade?
Conscientizar que o agronegócio não é pop, e sim que causa poluição por agrotóxicos, escraviza e mata.  Que não mais venhamos a julgar as pessoas que migram ou que foram escravizadas, também não julgar a juventude conceituando – a de preguiçosa e alienada. A luta é constante e Deus nos une para despertar o interesse pelo trabalho livre, construir um futuro de alternativas socioprodutivas nas comunidades, superando as imposições, valorizando as riquezas que o campo oferta. Una-se a juventude rural que diz não as ações mínimas e fragilizadas do Estado.
O amor e união são alianças do ecumenismo entre os diferentes que se integram e fortalecem a fé e esperança na luta por libertação e vida digna para todos/as.

* católica e assistente social

 

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