Inscrições abertas para o V Encontro Nacional para Jovens de Espiritualidade Dominicana

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Olá queridas e queridos amig@s do Movimento Juvenil Dominicano! Saúde e Paz!

O V Encontro Nacional para Jovens de Espiritualidade Dominicana já está se aproximando!

Neste ano, nosso Encontro acontecerá em terras mineiras! Nos reuniremos em Belo Horizonte (MG), na casa de Espiritualidade Santa Catarina de Sena, das Irmãs Romanas de São Domingos, entre os dias 12 e 14 de Outubro de 2018. E, desde já, as inscrições estão abertas!

O encontro é aberto a todos os jovens de espiritualidade dominicana e a todos aqueles que desejam fazer uma experiência de encontro com Deus e com o próximo, através do nosso carisma.

Em comunhão com a Igreja, que instituiu 2018 como o ano  do Laicato, e com o Sínodo da Juventude, que buscará repensar a evangelização junto aos jovens, queremos rezar e refletir a nossa missão na sociedade enquanto jovens leigos dominicanos. Por isso, o encontro será guiado por três pilares: No primeiro, rezaremos nossa vocação e refletiremos sobre o que Deus nos pede de forma particular. No segundo, refletiremos sobre o seguimento de Jesus como construção de um projeto chamado Reino de Deus. E, por fim, à luz do carisma dominicano, refletiremos sobre nossa missão junto às necessidades do mundo de hoje.  

Este ano, o esquema de hospedagem será diferente dos anos anteriores. Todos os participantes serão distribuídos nas casas dos integrantes do Grupo “Encontrar-se” (jovens dominicanos da comunidade local) e de leigos e leigas dominicanas da região. Será um lindo momento de comunhão e partilha!

Não há limite de quantidade de jovens para inscrição. Menores de idade deverão sinalizar na inscrição o nome da pessoa que estará responsável por ele durante o encontro.

As inscrições deverão ser realizadas até 12 de Setembro para melhor organização do encontro! Inscreva-se apenas quando tiver certeza de que irá. É importante que o coordenador tenha controle e ciência dos jovens de seu grupo que efetuarem as inscrições.

Clique aqui para preencher o formulário de inscrição.


Informações importantes:

  • Taxa de inscrição: R$30,00 por integrante (este valor será utilizado para custear gastos com alimentação e outras necessidades eventuais). Pagar ao coordenador/a e ele/ela efetuar o depósito na conta do MJD até 12/09/2018.
  • Data: 12, 13 e 14 de outubro de 2018
  • Prazo de inscrição: até 12 de Setembro (para podermos organizar hospedagens e realizarmos as compras para as refeições)
  • Endereço:
  • O custo com o transporte até o local do encontro é de responsabilidade de cada integrante/ grupo. Sugerimos que, grupos pertencentes à mesma região, compartilhem meios de transporte para baratear estes gastos.
  • Autorização: Integrantes menores de idade que residam fora de Minas Gerais, deverão levar uma autorização simples, assinada pelo responsável legal, conforme modelo anexo.
  • Alimentação: no local, incluso na taxa de inscrição
  • O que levar? Itens de higiene pessoal, caderno para anotações, caneta, bíblia, caneca. Não é necessário levar toalha e roupa de cama.
  • Conta para depósito:

Instituto Impulsionador da Instrução

Banco Itaú | Ag: 333 | C/C: 09330-0 | CNPJ: 34.033.837/0001-59

Qualquer dúvida, entre em contato conosco pelo email [email protected].

Contamos com a participação de vocês e nos vemos em BH!

Domingos, homem de seu tempo

Ao fim da série “Reflexões sobre São Domingos”, em que convidamos diferentes companheiros e companheiras da Família Dominicana, nós, do Movimento Juvenil Dominicano do Brasil, queremos oferecer um texto síntese da vida de São Domingos, em que aprofundamento histórico, análise de conjuntura do presente e as possibilidades de construção do Reino de Deus são levantadas pelas brilhantes letras de frei Betto. Conhecer, ou até mesmo revisitar esse carisma, nesse 8 de agosto, dia de São Domingos, é um convite a todos e todas.

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Em uma escrita que nos faz mergulhar pela universo desse santo que nos inspira por sua postura profética frente aos irmãos, vemos que a vida de estudos, oração e missão está mais viva do que nunca (e, também, cada vez mais necessária).

Esperamos que essa série possa ter sido uma pregação frutuosa para os diversos grupos da Família Dominicana e que também seja material para nossa contemplação, para, assim, levarmos o fruto do contemplado.

Para ar o texto completo, CLIQUE AQUI.

Uma boa leitura!

Viva São Domingos.

Fraternidades leigas dominicanas

por Maria Antonieta Degani Natariani*

Começo das Fraternidades Leigas Dominicanas
Domingos sempre foi seguido por leigos, num grupo que foi chamado de Ordem Terceira da Penitência da Santa Pregação. Após o Concílio Vaticano II, a Ordem Terceira ou a chamar-se Fraternidade Leiga Dominicana (FRADO).
Há uma Regra Geral para os leigos e um Diretório Regional que foi votado e elaborado por todos os leigos nas Assembleias anuais. É um guia concreto para o ‘caminharmos juntos’, peculiar às Fraternidades do Brasil.

Espiritualidade
Nossa espiritualidade é baseada no tripé Oração, Estudo e Missão. Nossa lema é: Contemplar e levar ao outro o contemplado.  Então, estudamos a Palavra para levá-la a quem dela precise (e sempre encontramos quem precise). Também estudamos documentos da Igreja e textos dominicanos.

Fraternidades Leigas Dominicanas no Brasil
No Brasil há 21 Fraternidades com mais de 300 leigos sob orientação de frades ou de irmãs. Temos a sigla OP (Ordem dos Pregadores) e, além dos Encontros Locais de Formação, participamos de Encontros e Assembleias  Anuais preparados pela Coordenação Nacional e de Encontros Internacionais.
O Mestre da Ordem, Fr. Bruno Cadoré, OP, pediu para sermos “Criativos e audaciosos”.  Levando em conta seu pedido , desde outubro de 2008  publicamos o  In-formativo  virtual  Presença Leiga Dominicana, cuja intenção principal é a de evangelizar e a de melhor divulgar nossas ações e necessidades,  proporcionando de maneira ágil, breve e clara as principais informações da Fraternidade no Brasil.

E assim, a Fraternidade  Leiga Dominicana caminha, saindo da ‘zona de conforto’ para poder seguir os os de Domingos  na trilha da Evangelização.

* Maria Antonieta, a Tunha, é leiga dominicana                      

Leigo Dominicano, colocar-se a caminho…

por Lourdinha Leal*

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Em 2018, “Ano Nacional do Laicato”, somos convocados a assumir nossa missão junto a Igreja em saída. Ir ao encontro do outro, sair da zona de conforto e fazer a experiência de caminhar lado a lado com aqueles que estão à margem, esquecidos e abandonados. Sinalizar ao próximo que é possível sonhar. Anunciar a ele que por meio da Palavra e da vivência cristã pautadas no testemunho são caminhos que trazem a esperança e força para a transformação de nossa sociedade.

Nesta travessia, temos raízes enquanto Família Dominicana. O carisma dominicano nos faz comprometidos com um Cristo encarnado no próximo, na vida que palpita a cada instante. São Domingos nos deixou um legado que impulsiona o leigo a olhar o mundo com amorosidade: anunciar a Boa Nova , ver e contemplar Deus no coração de todas as coisas.

Assim, as Fraternidades Leigas Dominicanas fazem memória a tantos que se comprometeram com o seguimento de Cristo de forma profética. Leigos que fizeram de seu púlpito o mundo, o dia a dia e não se renderam aos apelos do consumismo capitalista selvagem. Estes são referências para a célula mater das Fraternidades Leigas: o MJD. Os jovens dominicanos são nossa esperança enquanto leigos que sonhamos, lutamos e acreditamos numa sociedade mais justa, humana, sustentável e igualitária.

* Maria de Lourdes Leal, a Lourdinha, leiga dominicana em Uberada (MG) 

São Domingos e o diálogo com outras religiões

por frei Mateus Domingues*

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Entendida como um ordenamento de doutrinas e práticas que visa atingir ou intensificar as relações entre uma coletividade de indivíduos e uma dimensão divina da realidade, semanticamente,“religião” é um conceito relativamente novo. “Diálogo” adquiriu o estatuto que possui hoje, na história das ideias, como resultado da discussão filosófica perpetrada também recentemente. Ademais, no século XIII, grosso modo, os cristãos partilhavam a crença de que a única maneira de ser salvo por Cristo é mediante a adesão sincera e ortodoxa à fé cristã e a consequente adesão à Igreja. O debate teológico nas últimas décadas oferece uma compreensão incomparavelmente mais sutil sobre a questão da salvação do que outrora. Não obstante, em Domingos, homem de seu tempo, há indicativos que podem ser fundadores de uma abordagem hodierna do diálogo entre cristãos e não-cristãos. Como?

Domingos foi um buscador da verdade. Muitos irmãos dominicanos, na história da Ordem, em nome da defesa da verdade, se tornaram promotores da intolerância e do medo. Com efeito, a atitude de Domingos não era exatamente – ao menos não em primeiro lugar – a de um defensor, guardião ou conservador da verdade, mas primordialmente a de um “seguidor da verdade”. “Segue-se a verdade na caridade” (Ef 4,15); a verdade é algo para se praticar (cf. Jo 3,21). Para os primeiros dominicanos, imitar Domingos no seguimento da verdade foi um ato de ousadia: logo após a morte de Domingos, havia conventos em Constantinopla, Túnis e Bagdá; na virada entre os séculos XIII e XIV, havia irmãos pregadores da China à Mauritânia; antes, os irmãos dominicanos estabelecaram escolas de árabe em Túnis (1245) e de hebraico em Múrcia (1265). Contrariando as fobias de então, alguns irmãos, como Alberto, Tomás e Raimundo Martí, tiveram a audácia de, para compreender Aristóteles e as ciências, dedicar suas vidas ao estudo das obras de filósofos “pagãos”, assim como, principalmente, ao estudo de todas as obras de filósofos muçulmanos e judeus que lhes eram então íveis, sem se esquecer das obras de certos filósofos cristãos classificados como “hereges” ou “cismáticos”; a partir disso, Alberto, Tomás e Raimundo Martí, entre tantos outros, puderam produzir conhecimento e formar, com os autores de suas fontes, uma comunidade de pensamento – o conhecimento não tem filiação religiosa. Tomás e Raimundo Martí, por sua vez, demonstraram e insistiram que a disputa com não-cristãos se funda naquilo que cristãos e não-cristãos compartilham: a razão. Mesmo se hoje é inevitável constatar que “disputa” não é a melhor atitude, o fundamento do método de Tomás e de Raimundo Martí permanece intacto; com estes dois irmãos e com outros entre os primeiros teólogos dominicanos, aprende-se que a fundação do diálogo está no que se partilha com os interlocutores – a “razão” – e, ao ser fiel a esse princípio dominicano-tomista, pode-se empregar outras configurações compartilhadas, as quais são redutíveis a isto: antes de ser seguidores de religiões distintas, todos são seres humanos. Em outras palavras, da abordagem dominicano-tomista preserva-se a confiança na razão humana – e, por extensão, em tudo o que é concomitante à condição de “ser racional” e de “ser humano” –, lugar privilegiado de encontro entre as religiões, permitindo aos desejosos de buscar a verdade explicitar suas respectivas posições e doutrinas de maneira razoável.

No diálogo com seguidores de outras religiões, é praticamente inevitável constatar uma pluralidade de posicionamentos e doutrinas sobre a existência e a realidade e que se reivindicam como “a verdade” ou, no mínimo, como verdadeiros; certos posicionamentos, quando enunciados, são incompatíveis uns com os outros. O diálogo não é a busca de um grande acordo de compromisso ou de nivelamento entre doutrinas divergentes. Não se trata tampouco de procurar destruir os posicionamentos e as doutrinas que são incompatíveis com as doutrinas e posições cristãs. Na verdade, o diálogo convida a uma mudança de perspectiva, na qual os posicionamentos enunciados possam vir a se tornar mais inteligentes, sofisticados, reflexivos, moderados, lúcidos, modestos. Não se trata de uma renúncia às posições iniciais, mas de uma revisão crítica das mesmas; isso implica uma abertura a uma reinterpretação das diversas tradições à luz da revisão realizada, o que permite a apreensão de uma graduação progressiva no caminho à verdade.

A contribuição dominicana no vislumbrar de uma graduação progressiva e crítica em direção à verdade consiste no convite para se sair do nível da representação por imagens, as quais são formadas mentalmente sobre uma determinada coisa; a busca dominicana da verdade sublinha a busca por apreender intelectualmente a coisa enquanto tal, por assim dizer. Um diálogo inter-religioso dominicano procura ter por base algo que seja empiricamente verificável nas fontes de determinada tradição religiosa e que seja, por isso, justo com a tradição em questão, seguindo uma argumentação sadia e honesta. Há, portanto, uma primazia do fato, o qual, na abordagem dominicana, certifica toda enunciação e toda prática. É necessário, pois, muito estudo, pesquisa, rigor e humildade. Franqueza e paciência são igualmente necessárias para se operar um desarme das desconfianças e mal-entendidos mútuos. Bem que o catáter objetivo da verdade tenha que ser, na abordagem dominicana, o fundamento do diálogo, a epifania da verdade aparece como uma construção. No diálogo, a ocorrência de tal construção é relacional, pois a verdade se manifesta nos encontros com pessoas únicas e concretas. A aparição da verdade coincide com o aparecimento de amizades singulares, assim como implica uma ação comum. Por isso, o seguimento da verdade é uma busca paciente e permanente. Sobre isso, Domingos legou mais dois ensinamentos. O primeiro é que o cristão deve procurar agir sempre de acordo com aquilo que os próprios cristãos professam ser o modo de ação divino, isto é, de acordo com a misericórdia. O campo de presença imensurável da misericórdia capacita e impele os pregadores a serem irmãos entre si e irmãos de todos – inclusive dos não-cristãos. O segundo ensinamento é a contemplação: aprende-se com Domingos a apreender em tudo e em todos – e não somente entre os cristãos – a epifania da Palavra eterna de Deus; há uma inspiração, novamente, na perspectiva divina que se assume, de alguma maneira, como sendo a de todo pregador e que pode se tornar a de todo ser humano. O exemplo de Domingos evidencia que o diálogo supõe uma mística da palavra e uma ética da palavra; o diálogo é uma obra de pregação – para os outros e, primeiramente, para si.

irmão (frade) da Ordem dos Pregadores, ministro ordenado (presbítero), pesquisador em história da filosofia e da teologia islâmica e membro do Institut Dominicain d’Études Orientales (IDEO) do Cairo.

Carisma Dominicano e Democracia

por frei Márcio Couto, OP

Posts-SemanaDomingos2018-05

A palavra carisma significa dom, graça extraordinária. S. Tomás de Aquino vê a graça como um duplo movimento: a graça (santificante) une o ser humano a Deus por um lado, e por outro, a graça faz com que alguém ajude o outro a chegar a Deus (graça dada gratuitamente). O carisma dominicano é uma graça que recebemos para nos santificarmos, e também levarmos ao outros esse dom. Isso se exprime em nosso lema Contemplar e levar os outros à contemplação.

Uma dimensão do carisma dominicano é a forma democrática que são Domingos escolheu para organizar a Ordem. Esta tem uma estrutura básica de baixo para cima. S. Domingos quis que todos os cargos de grande responsabilidade fossem ocupados por pessoas escolhidas pelos seus pares, isto é, pelos irmãos. Nisso consiste nossa democracia. Essa dimensão democrática deve atravessar todas as nossas instituições, porque ela faz parte do nosso carisma.

Por que se fala tanto de estudar na família dominicana?

por frei André Tavares, OP*

Posts-SemanaDomingos2018-06

Lembro-me que há alguns anos, o Mestre da Ordem, frei Bruno Cadoré, ao falar da vida de estudos, convidava a pensá-los como uma realidade que “irriga toda nossa vida de dominicanos”. A imagem é realmente bonita. Eu comecei, então, a me perguntar por que ele havia utilizado o verbo “irrigar”. Quando falamos “irrigar”, vem à nossa cabeça ou uma plantação ou um jardim. Então me lembrei que frei Bruno nasceu numa região da França chamada Borgonha, famosa pelas suas vinhas e por seus jardins.

Os especialistas discutem há séculos se o melhor vinho é feito na Borgonha ou na região de Bordeaux. Bem, trata-se de uma questão muito complicada… Por isso, para tentar compreender este “irrigar” que frei Bruno utilizou, prefiro tomar o exemplo de um jardim. Se você pesquisar no Google “jardins da Borgonha”, não vai encontrar muitos espaços espetaculares como os jardins dos palácios de Versalhes ou de Luxemburgo. Mas, você encontrará imagens de pequenas vielas bem cuidadas, com arranjos de flores nas calçadas, junto às janelas, aos pés das imagens de Nossa Senhora… Os jardins naquela região não são espetaculares, mas algo que faz parte da paisagem comum, em toda parte. Do mesmo modo, os estudos na nossa família não são algo espetacular, para poucos, mas uma realidade normal na nossa vida de dominicanos. Quando o silêncio, a reflexão e o aprofundamento am a fazer parte, habitualmente, de nosso cotidiano, podemos dizer que estamos vivenciando esta dimensão importante da missão que nossa família recebeu da Igreja. A vida de estudos, mais que um acúmulo de informações é uma postura de vida, uma espiritualidade. Quando eu era frade-estudante, um grande teólogo dominicano, frei Claude Geffré, fez uma pequena palestra para os frades do convento onde eu morava. Ele disse algo que nunca vou me esquecer: para nós dominicanos, dedicar-se aos estudos está no mesmo plano de vivenciar a obediência, a pobreza e a castidade. Eu disse para mim mesmo: “Uau!”

Bem, estudar não é uma coisa simples, mesmo quando nos são oferecidas condições para tal. Também não é sempre prazerosa. E então nos perguntamos: o que nos leva a ar horas de silêncio, na companhia de livros, no quarto ou na biblioteca, mesmo num belo dia de verão? O que nos leva a dizer não a ir ao cinema com os amigos, quando temos que preparar os exames? O que nos leva a não assistir um clássico futebolístico numa quarta-feira, sabendo que temos que dar aulas na quinta, bem cedo? Todas essas renúncias só terão sentido se temos claro o fim: a pregação. A Igreja confia que sejamos nós aqueles que servem seus irmãos pela doutrina, pela reflexão, pelo aprofundamento, e sem improviso.

Boa parte dos dominicanos, como você sabe, usa óculos… Eu não sou exceção. Há algum tempo, liguei para o consultório de meu oftalmologista. Precisava fazer minha visita bienal. A secretária muito gentilmente me disse que naquela semana não seria possível, pois o doutor estava nos Estados Unidos para um congresso. Penso que pela primeira vez na vida eu tenha ficado feliz por não ter conseguido uma consulta rapidamente. Eu fiquei contente porque meu médico estava se aprofundando para que pessoas como eu, seus pacientes, pudessem se beneficiar do avanço da oftalmologia. E para isso, ele deixou de trabalhar (e ganhar) alguns dias. E como ele é pai de família, é possível que tenha sido duro deixar de ver seus três filhos e sua esposa por uma semana. Pode ser que ele tenha perdido a apresentação de teatro de sua filha mais nova, ou que tenha sentido não poder ir jogar bola com seu filho mais velho. A família dele deve também ter percebido que faltava alguém no banco da igreja, na missa de domingo… Eu agradeci a Deus pela generosidade do meu médico. Assim como eu me sinto mais seguro sabendo que meu oftalmologista estuda e se atualiza, eu ficaria bem desconfiado de me aconselhar com um dominicano que há algum tempo não vai à livraria…

Convento “Saint-Jacques”, Paris

A pregação dominicana pela arte

por frei Mariano Foralosso, OP*

Posts-SemanaDomingos2018-07-07

Quem for viajar na Itália, uma etapa obrigatória é a cidade de Florença, onde a arte e o belo reinam por toda parte. Nesta cidade existe um convento dominicano, o de São Marcos, que pode ser considerado o exemplo mais perfeito de pregação dominicana pela arte. Nele o pintor dominicano frei Angélico revestiu as paredes dos corredores, das salas comuns e dos quartos com inúmeras pinturas, retratando a vida de Jesus e de Maria.

O objetivo de frei Angélico era de pregar aos frades pela arte, alimentando sua vida de estudo, de oração e  contemplação com a força das imagens e o atrativo da beleza. No começo estas imagens maravilhosas, em que arte e fé, beleza terrena e beleza divina se fundem e confundem, eram reservadas somente para os religiosos que moravam no convento. Depois das supressões o convento de São Marcos virou museu do Estado, aberto ao público. Todo dia é uma maré de pessoas que contemplam silenciosas a beleza celestial que o grande artista pregador conseguiu expressar nas Madonas, nos Santos, nos Anjos, nos episódios da vida de Jesus.  O espetáculo desta beleza se torna, para cada pessoa que a contempla, um ‘boa nova’ do amor de Deus para nós, da dignidade e beleza de cada pessoa humana, que é imagem da beleza de Deus. Esta do frei Angelicó é uma pregação pela arte que continua há seis séculos!  Frei Angélico é um exemplo de pregador dominicano pela arte. Talvez o mais conhecido.  Nos oito séculos de vida da Ordem esse tipo de pregadores foi bastante comum!

No Brasil também tivemos e temos membros da Família Dominicana que exercem sua missão de pregadoras e pregadores falando com o linguajar da arte, do belo. Lembro o caso de frei Nazareno Confaloni, artista e pregador que deixou um magnífico legado de evangelização pela beleza:  em Goiás Velho, em Goiânia e em muitos outros lugares do Brasil.

* frade dominicano com sua missão há mais de 30 anos no Brasil 

Reflexões sobre São Domingos: compaixão e juventude

por Alvanei Finamor*Posts-SemanaDomingos_3-03

Domingos de Gusmão foi um homem sensível a realidade de seu tempo. Dedicou sua vida a busca da “verdade”, e assim, o fez com a fundação da Ordem. Abdicou de bens preciosos de sua família, de bens como seus livros. Assim, disse: “não posso estudar sob peles mortas se meus irmãos morrem de fome”.

Fez-se atento ao sentar com o cátaro na hospedaria e ar a noite conversando, ouvindo-o e instruindo-o.

Mover-se de compaixão requer senso de solidariedade, sentir-com, estar-com, calçar as sandálias dos outros, colocar-se no lugar do outro, estar com  o outro. Já dizia um dominicano que “a compaixão é uma história de paixão”.

Domingos de Gusmão viveu tudo isso, sentiu paixão e transmitiu-a a seus jovens amigos. Se “a compaixão é uma história de paixão”, arrisco a dizer que ela nasce na juventude. No jovem que deseja mudar o mundo; que sonha;  que não tem medo de arriscar-se, medo de errar e começar de novo; que não tem medo de doar sua vida a outros.

Domingos de Gusmão nos provoca a sermos jovens sem medo, nos provoca a sentir simpatia e compaixão pelo outro.  A ter um olhar de misericórdia  desejoso de encontrar o mais íntimo e profundo com o outro.

*Agente de Pastoral

Reflexões sobre São Domingos: grande pregador do evangelho

por Josenilde Marques, OP*

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Falar sobre São Domingos de Gusmão é falar de um homem sereno, alegre, simples, agradável, humilde, zeloso, itinerante, missionário, peregrino, caridoso, misericordioso, orante, contemplativo e amante da verdade que é o próprio Cristo.

Domingos nasceu em Caleruega na Espanha, em 24 de junho de 1170, e faleceu em Bolonha- Itália, no dia 06 de agosto de 1221. Era filho de Joana de Aza e de Félix de Gusmão. Embora fosse filho de condes, Domingos desfez-se de tudo o que possuía para viver na íntegra a pobreza evangélica. Desde pequeno era sensível às coisas de Deus. Trazia consigo e quase sabia de cor, o Evangelho de Mateus e as epístolas de São Paulo.  Fez-se tão pobre que nunca mais teve uma casa para dormir. Seu teto, seu “claustro” era o mundo; levou a sério a pobreza de Cristo: “as raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mt 8,20).

Domingos foi um homem de oração, buscou um equilíbrio entre rezar à vida e o viver a oração. Durante o dia, falava de Deus para as pessoas e a noite, falava das pessoas para Deus. Era tão sereno que amava a todos e por todos era amado. Assim como Jesus, Domingos teve compaixão dos pobres, a ponto de vender seus livros preciosos: “como posso estudar em peles mortas, enquanto meus irmãos morrem de fome”.

Em 1206, Domingos teve a grande alegria de receber no seu pequeno convento de Prouille as nove mulheres por ele convertidas, juntamente com mais duas jovens. Este pequeno grupo de monjas foram as primeiras colaboradoras de São Domingos para que se conseguissem mais conversões dos hereges. Esta foi a primeira fundação de Domingos que por meio da oração das monjas, fortalecia e sustentava a pregação.

Percebendo a formação precária dos padres de sua época (eram poucos estudados e não tinham a autorização para pregar o Evangelho), Domingos pensou em fundar a Ordem Religiosa semelhante à vida dos apóstolos, uma vida de “Contemplação e Ação”, ou seja, seus frades teriam de estudar muito para poderem ensinar as verdades do Evangelho, dedicando-se também à oração. Tudo o que fosse colhido no estudo e na oração seria transformado em “AÇÃO” levado aos homens através da pregação da Palavra de Deus (Contemplar e dar aos outros o fruto do contemplado). No começo foram dois, seis, dez, vinte e aos poucos foi crescendo o número de seguidores. São Domingos organizou sua Ordem e após receber os primeiros colaboradores oficialmente em sua nova comunidade, enviou-os dois a dois, para lugares diferentes, porém destinados às universidades mais famosas da Europa, a fim de estudarem e começarem suas pregações, pois dizia: “O trigo amontoado apodrece, mas se a semente cai na terra, germina, cresce e dá fruto”. Domingos integrou na Ordem o estudo enraizado na Palavra de Deus, como busca incessante da verdade contemplada, vivida e comunicada.

Em suas viagens como missionário pregador da Palavra de Deus, Domingos descobriu que o trabalho apostólico dos Frades Pregadores, por mais eficiente que fosse, tinha um limite, por isso pensou nos leigos. Neste sentido, podemos dizer que São Domingos foi muito avançado para sua época, pois já tinha em mente a missão e o trabalho dos leigos na Igreja de Jesus Cristo. Ele valorizou-os, fundando um novo ramo de sua Ordem, exclusivamente para aqueles que não iriam morar em conventos, mas seriam “pregadores” no mundo, no seu dia-a-dia, morando em suas casas.

Amante da natureza como era, São Domingos extasiava-se diante das maravilhas e da beleza de Deus, e, neste clima de alegria, junto com o Irmão Bertrando, ia cantando salmos, hinos e ladainhas. Alegre nas adversidades, Domingos louvava e bendizia sempre ao Senhor! Louvar, Bendizer e pregar, eis o lema da Ordem!

Como São Domingos, procuremos cultivar o amor pelo estudo, pela vida comunitária, oração e pregação. A pregação é o sopro que inspira e organiza aquilo que somos e que fazemos como Família Dominicana. Ela é a maneira de estarmos no mundo.

*Irmã de Santa Catarina de Sena